Portugal é uma empresa que vendeu os seus ativos e pensou que estava a fazer um bom negócio.
Somos um país de merceeiros e não de empreendedores. Quando entrámos na União Europeia virámos costas àqueles que, aproximados pela língua, estavam distanciados pelo mar e por uma história que preferimos não tocar mais.
Vendemos a nossa produção agrícola sob a mais horrível forma de largar a enxada. Deixámos de produzir, de pescar, de criar, e começámos a vender. Vendemos água, eletricidade, barragens, cervejas, transportes e até a mais antiga empresa em Portugal, os CTT, um bem essencial para qualquer país, foi vendida.
Como qualquer empresa que vende os seus ativos e deixa de criar riqueza, a despesa torna-se dívida.
Correndo o risco de um saudosismo fantasioso de quem o nunca viveu, “entre as brumas da memória”, com os olhos semicerrados do esforço ocular, conseguimos ver um Portugal que não era um serviço.
É importante olhar para trás, mas somente para ganharmos força e inspiração num sentido de identidade que não é a de uma marca de empresa de serviços, servil e pedinte.
O turismo é o reflexo de um autorretrato cultural. Não é só a arte no Louvre ou a pizza italiana nas ruas de Roma que atrai. A Europa retrata-se na sua historicidade, e um dos países mais antigos do mundo parece ter aversão à sua história. Vendem-se praias e passeios bonitos. Todavia, projetos arqueológicos são poucos e mal financiados.
Para um país que adora futebol, deixam-se passar faltas de cartão vermelho.
Não falta investimento em Portugal, falta investimento nos portugueses. Falta fé no povo português. Falta saúde, falta educação. Falta liberdade para tentar criar, falta voltar a acreditar que se pode fazer mais e melhor.
Falta uma justiça independente, forte e universal. Falta um governo que acredite que Portugal não tem que fazer saldos e rebaixas. Falta tanto e tanta coisa, mas acima de tudo, falta acreditar em Portugal.
Texto previamente publicado na Publituris