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Escrevi há algum tempo como a criação do Alojamento Local foi uma boa ideia de regular e taxar um mercado paralelo e como estava já a ser alvo de controvérsias.
Todavia, o Governo deu mais um passo em frente, e em falso.

Direto ao assunto – a gravidade está no afastamento da responsabilidade fundamental de um Governo republicano – o acesso à habitação.

Não é, repito – não é – da responsabilidade ou dever de um privado facultar o seu imóvel para qualquer uso para além daquele que este deseje.

O apontar de responsabilidades não é só feio, mas também hipócrita. Com 717 imóveis devolutos, as redes sociais não se fizeram esperar, com a #devolutosdoestado, revelando a quantidade de edifícios detidos pelo Estado que poderiam ser usados para habitação pública.

Seria para rir, se não fosse tão grave.

Todavia, não estamos sozinhos. Em todo o mundo a situação é semelhante, graças a uma pandemia e a uma globalização, e na Austrália está a acontecer precisamente o mesmo. As más ideias também são contagiosas, parece-me.

A hipocrisia é descarada e não tem vergonha porque é desesperada. A um Governo desgastado, tremido e com fendas, só lhe resta apontar o dedo. E haverá alvo maior que toda uma indústria que se reergueu das cinzas de uma pandemia com energia e esperança?

Aponta-se o dedo ao turismo, em especial, àqueles que dificilmente sobreviveram a dois anos incrivelmente difíceis e que, agora, começavam outra vez a dar passos com mais confiança.

Fica a pergunta, porque é que o Estado, invés de gastar dinheiro em pacotes de apoio, não investe na recuperação dos ativos já detidos pelo Estado e os converte em habitação com rendas dignas?

Fazendo assim concorrência feroz e imponente num mercado completamente desregulado e selvagem?

Não será mais proveitoso colocar amaciador no pelo do que lhe pegar fogo?

Como é óbvio, dir-me-ão que para isso é preciso ainda mais dinheiro. Eu respondo que, tal como a energia, o dinheiro não se perde, muda de mãos, e eu preferia que este ficasse no Estado e fosse usado para o bem de todos nós. Que pensamento radical.
Para além disso, nutre-se um mercado legal, lucrativo e benéfico para um turismo mais autêntico e sustentável de Portugal, e agora volta-se atrás, numa volatilidade que só transmite instabilidade?

“Andam a brincar com quem trabalha?”

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