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Comecei o ano com malas às costas. Troquei a areia nos dedos dos pés por lama nas botas. Troquei Portimão por Oliveira de Frades. Uma troca que fez alguns dos leitores me mandarem mensagens interrogativas e telefonemas incrédulos e na BTL não se escondeu o espanto quando contei a minha mais recente aventura. Tal deveu-se a vários motivos, pessoais e profissionais, contudo, foi um acreditar num Portugal turístico mais sustentável, verde e verdadeiro que me fez abraçar a mudança.

A solução para a sazonalidade é a cultura perene.
O Algarve vive do sol e da praia, que só acontece no verão. No inverno, as cidades são frias e vazias. Os locais afirmam em setembro que “o Algarve volta para os algarvios”. O Algarve deveria ser para toda a gente, durante todo o ano. Finalmente começa-se a valorizar a comida (piscar de olho para o Chef Louis Anjos, Chef João Marreiros e as Estrelas Michelin), e a cultura local que tanto foi menosprezada há tanto tempo. Contudo, continua-se a vender o Algarve como algo que só combina com agosto.

Aqui, no Centro, os esforços comunicativos estão focados nos percursos, na antiguidade da calçada e na comida, todas boas, durante todo o ano. Até posso agora afirmar que até são melhores com chuva e frio. As cascatas estão a abarrotar de água e o verde é luxuoso, e quando tocamos na água quente do duche ao fim da caminhada é como se estivéssemos a ser abraçados por algo transcendente.

No Norte da Europa diz-se que “não existe frio, existe estar mal vestido”.

Nem tudo é melhor no Centro de Portugal, não falando na falta que sinto dos passeios na hora de almoço na praia da Galé.

No Centro de Portugal há muito para ser feito. Falta coordenação do tecido empresarial, dos hoteleiros, das atividades turísticas, dos restaurantes que, por ordem natural da localidade, como é infelizmente comum também no Algarve, desconhecem a riqueza da sua própria região. Falta a confiança dos algarvios no seu produto. Falta acreditar que não só se é bom, se é o melhor.

Os municípios e associações institucionais fazem um trabalho exemplar, mas pecam na ligação com os agentes no terreno, é comum não se conhecerem entre si, nem o que podem fazer uns pelos outros. Todavia, a estrutura está lá. Os percursos lindíssimos estão criados, as cascatas jorram água, as festas celebram-se e a comida é deliciosa.

Continuarei a adorar o Algarve e a apoiar a sua valorização, contudo, descobri um Portugal que merece mais atenção, exposição e que posso ajudar a dinamizar, metendo as mãos à obra e as botas na terra.

Previamente publicado na Publituris
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