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Portugal é bom, os portugueses são mais ou menos.

Não se trata de uma analogia sobre o copo meio cheio ou meio vazio. Trata-se da necessidade de olhar para o copo e não ver a quantidade de água, mas sim a quantidade de ar.

Aposto que ao ler o título deste artigo o português que o leu inadvertidamente questionou o que faltava. “É bom, mas podia ser melhor”, “Portugal é bom, mas só para alguns”, “é bom para quem está bem”, “é bom, mas não é para os portugueses.”

O ponto final no título é intencional.

Somos um povo de contrassenso, de um eterno otimismo negativo. A melhor analogia que posso dar é a da vítima de um acidente que ao ficar paraplégica recebe o comentário tipicamente português “vá lá, podia ter morrido”, e se morreu, “se sobrevivesse poderia ter ficado paraplégica, foi melhor assim”.

Não estamos bem, mas poderíamos estar sempre piores.

A Portugal não falta nada, aos portugueses falta-nos olhos na cara para ver a água que lá está, não a que poderia faltar, mas a quantidade exata. Até quando a água é escassa e quase a acabar, não a queremos ver. Olhem para as barragens vazias e os gritos de desespero de quem as gere. Ninguém quer ver nem ouvir.

Fugimos dos problemas. Pegamos nas nossas naus, atolamos com as nossas trouxas e futuros, e lá vamos nós para longe. Tudo porque somos o pior cego, aquele que não quer ver. Deixamos os jovens irem embora porque a experiência da cegueira desmotivadora ainda não erodiu a sua vontade de querer melhor, apontada como ingenuidade ou ilusão de “licenciados” de narizes empinados, a de querer ter uma vida digna, com salários dignos.

Podia ser sempre pior. Mas e quando somos os piores? Estamos na cauda da Europa, somos os piores em quase tudo. E tudo porque deixamos de ser. Porque nos falta sempre alguma coisa e a culpa é sempre de outro alguém que se perde num “eles”.

Escrevo aqui porque acredito que para vendermos um Portugal bom, temos de ser melhores. Poucos são os que acreditam, e não basta acreditar. Temos de apoiar, divulgar, dialogar e, mais importante, fazer, fazer mais e fazer melhor.

O Algarve, como é já comum, foi mais uma vez objeto de “depreciação” pelos meios de comunicação durante o verão.

Aqui no Algarve já sabemos que em julho chegam o sol, os turistas e as críticas.

Este ano foram, mais uma vez, apontados os preços altos, os exageros, as praias lotadas e as praias interditas a banhos. Afirmou-se que o Algarve já não serve para as carteiras dos portugueses, não se focando que estas só estão pesadas porque não carregam notas e levam só moedas.

Troca-se o discurso de um Algarve de turismo de massas por um Algarve ingrato. Não se diz que um português não é mau cliente, mas é um cliente mais pobre.

O turismo é um barómetro. As férias são as primeiras coisas a cortar em tempos de dieta de carteira.

As calorias cortam-se, mas não se faz exercício. Somos trabalhadores, suamos que nos fartamos, mas olhamos para o conta quilómetros com a esperança de ver metas ultrapassadas, mas não fomos a lado nenhum porque andámos à volta dentro de um pequeno sauna.

Para nós, que vivemos e fazemos da hospitalidade a nossa profissão, estes discursos são inflamatórios, e o único remédio é o gelo da fria realidade – Portugal é ingrato consigo mesmo e o seu discurso é de quem sofre de baixa autoestima e se acha incapaz de merecer melhor.

A História de Portugal está repleta de exemplos de grandes Homens que morreram pobres e sem louvores. A apreciação vem sempre tarde e normalmente post mortem.

Falta-nos motivação para fazer mais, mais vezes e melhor. A cura da apatia é fazer. E, como ouvi uma vez, queixarmo-nos de falta de motivação é como nos queixarmos de estar com fome, com um frigorífico cheio, e não nos levantarmos do sofá para ir cozinhar.

Ser empresário no turismo, ou em qualquer área de negócio, em Portugal, é para loucos ou super-heróis. Não só os impostos são verdadeiros menires que só quem toma “poções mágicas” do Asterix é que os consegue levantar, com a burocracia que só um verdadeiro homem-aranha consegue orientar tal é a teia.

O caminho parece óbvio. Impostos mais leves e uma burocracia mais direta, simples e uma gestão transparente. Contudo, temos o exemplo de quando o governo baixou temporariamente os impostos dos combustíveis e o resultado foi um preço final para o consumidor quase igual, tendo as margens de lucros sido superiores.

A resposta não é fácil nem simples, mas acredito que advém de um foco maior e mais preciso na produtividade.

Ajudas do Estado não têm de ser subsídios, podem e devem ser focadas em facilitar, em abrir portas, criar pontes, entre empresas, universidades e oportunidades internacionais. A ajuda do Estado deve focar-se em fornecer água aos produtores e não tentar resolver a falta de frutos que as empresas têm porque quer dar a sua trinca.

O turismo é o barómetro, e está demasiado calor.

 

Texto previamente publicado no Publituris

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