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Um dia, estou a caminhar pela zona ribeirinha de Portimão e encontro um velho Mestre a remendar as suas redes de pesca. Lembro-me de lhe tirar uma foto, pois parecia saído de um filme, ele, sentado num trono de redes, segurando uma faca e acompanhado de um pequeno rádio, iluminado por uma única luz diretamente em cima de si. A concentração e o cuidado eram notórios em cada gesto, pois ele sabia, que tinha que cuidar das suas redes para o seu sustento.

“Não vamos conseguir comer todo o peixe que vem à rede este ano. A rede está cheia, mas está furada.” – O desabafo de um colega que se orgulha em conseguir ocupações de três dígitos por largas semanas. Não que eu, particularmente, seja a favor desta prática, pois a quantidade sempre foi inimiga da qualidade.

Após dois anos de seca, conseguimos sentir as primeiras gotas de chuva, que nos caem nos ombros e nos fazem olhar para cima, com uma esperança tímida e cautelosa. A previsão é de aguaceiros fortes, trazendo nuvens de regiões que pairavam noutros céus, mas que agora procuram um descanso livre de fogos de artifício.

O risco de inundações é real. Porquê? Porque durante a seca ninguém manteve as sarjetas e o sistema de evacuação e tratamento de águas.

A ausência de colaboradores e a instabilidade natural da previsão turística que, já cautelosamente nos fala em números maiores que 2019, são índices de risco de uma inundação.

O mau serviço sempre foi visto intrinsecamente ligado à qualidade do staff, ao invés do seu rácio face aos clientes.

Em Portugal acredita-se que para se fazer bom sumo tem que se espremer bem as laranjas. Quando se fala em adubar e regar bem as laranjeiras para estas terem mais sumo e mais doce, fala-se em desperdício e perda de tempo.

Neste país retangular de mentes quadradas não se pensa na sustentabilidade, mas na imediaticidade de um retorno exprimido à exaustão. Aqui, fazem-se omeletes sem ovos e ainda se culpa o cozinheiro. Falta ainda perceber o humanismo numa indústria de experiências humanas.

Porque é que isto é importante? Porque o risco em querer espremer ao máximo é o sinónimo de um mau serviço, e o mau serviço é sinónimo de uma marca arruinada.

Sei que muitos não querem saber da marca, de marketing, das críticas, da satisfação dos seus clientes, todavia, felizmente, acredito não serem estes que leem estes meus artigos. Para os que procuram providenciar aos seus hóspedes a melhor experiência possível, façam os rácios, não tenham medo de bloquear 10 a 20%, para garantir o melhor serviço possível. Sei que estamos todos com fome, mas às vezes a gula causa diabetes, e está na altura perfeita de causar boa impressão e fidelizar novos clientes, e esse, sim, deve ser o objetivo.

Certo dia fui fazer uma longa caminhada e levo uma merenda para comer a meio do dia. Dou uns tantos passos e fico com fome. Tal hobbit, decidi sentar e comer. Como é claro, a meio da tarde estava a morrer de fome e tive que voltar mais cedo. Não tentem comer tudo já, mas plantem sementes para se comer mais e melhor para o ano. Deixem a água regar o solo invés de ser engarrafada.

 

 

Texto previamente publicado na Publituris

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